Somos herdeiros de um modelo atual de ensino, sistematizado desde o século XVII. O educador é muito examinado durante toda sua vida escolar quando estudante e, ao se tornar profissional, repete esse comportamento.
Ao longo dos anos, pedagogos e profissionais da Educação tentam mudar a vigência da pedagogia tradicional, que responde a um modelo seletivo e excludente.
Segundo Luckesi, “a avaliação é constituída de instrumentos de diagnóstico que levam a uma intervenção, visando à melhoria da aprendizagem”. Ela deve propiciar elementos diagnósticos que sirvam de intervenção para qualificar a aprendizagem.
O processo de avaliação na Educação Infantil é amplo e complexo. Há aspectos internos e externos à escola a serem observados. Os externos são a escassez de recursos e as más condições de ensino; os internos dizem respeito à relação educador x aluno. O educador precisa conhecer a criança em seus aspectos emocionais e culturais, além de conhecer a história de vida da criança em seus aspectos familiares, pois esses fatores contribuem ou interferem no desenvolvimento da aprendizagem.
Para significar a relação educador x aluno e para que esta relação esteja garantida sem a interferência da seleção, “poder-se-ia dizer que o principal instrumento de toda avaliação formativa é, e continuará sendo, o educador comprometido em uma interação com o aluno” (Perrenoud, 1999). Essa interação é, também, a observação do aluno como indivíduo único compartilhando com os demais, e devemos entender e atender as necessidades de cada um, partindo do pressuposto de que sua construção do conhecimento é dicotomizado.
A avaliação na Educação Infantil significa uma reflexão do educador sobre o processo de aprendizagem e sobre as condições oferecidas por ele para que esta aprendizagem possa ocorrer. Sendo assim, caberá ao mesmo investigar a adequação dos conteúdos escolhidos, a proposta lançada, o tempo e ritmos impostos ao trabalho, tanto quanto caberá investigar as aquisições das crianças em vista de todo o processo vivido, na sua relação com os objetivos propostos.
Na esfera educacional infantil a avaliação que se faz das crianças pode ter algumas conseqüências e influências decisivas no seu processo de aprendizagem e crescimento. Neste sentido, a expectativa dos professores sobre os seus alunos tem grande influência no que diz respeito ao rendimento na aprendizagem. Nesta fase, é preciso ter uma visão global da criança. Não é aconselhável concentrar esforços no que as crianças não sabem fazer e, sim, considerar as suas potencialidades.
Quando se tem uma imagem positiva da criança e se espera que ela obtenha bons resultados, pode-se estar favorecendo que ela se sinta capaz de enfrentar caminhos e dificuldades e, conseqüentemente, possa desenvolver habilidades específicas inerentes ao seu aprendizado.
A avaliação é um elemento-chave de informações que serve para a tomada de decisões do educador. Este deve tentar proporcionar a todos os alunos a possibilidade de vivenciarem experiências de sucessos, para que todas as crianças tenham vontade de aprender e crescer com o seu grupo de companheiros.
Na Educação Infantil, a avaliação tem a finalidade básica de fornecer subsídios para a intervenção na tomada de decisões educativas e observar a evolução da criança, como também, ajudar o educador a analisar se é preciso intervir ou modificar determinadas situações, relações ou atividades na sala de aula.
Desse ponto de vista, ela serve basicamente para avaliar o que acontece quando é colocado em prática o programa que foi planejado previamente e para verificar se é preciso modificar ou não determinadas atuações do educador. Assim, a avaliação está sendo utilizada para recolher informações que ajudam a melhorar as propostas que são realizadas em sala.
Nesse sentido, quando se avalia, não se faz somente em relação à evolução da criança, mas também em relação ao programa, ao projeto didático e a intervenção educativa do professor.
Quando é fixado determinado objeto educativo, deve-se considerar sempre a hipótese que, depois, com a avaliação pode-se avaliar em que medida e com que diversidade foi alcançada o objetivo proposto. Assim, deve servir basicamente para intervir, modificar e melhorar a prática pedagógica do educador e a evolução da aprendizagem dos alunos.
A avaliação pode se dar em diferentes ocasiões e com finalidades diversas. Não deve ser reduzida a uma descrição de comportamentos observados. O educador deve conhecer profundamente o desenvolvimento mental da criança, a fim de refletir permanentemente sobre seu papel na Educação.
É preciso recolher informações que sejam pertinentes a um determinado momento, permitindo interpretar e entender o que acontece, de modo que sirva para regular a intervenção educativa do educador e para compreender melhor a criança e suas necessidades. Essa atitude conduz o educador a uma reflexão e planejamento freqüente e produtivo com propostas de atividades e orientações aos alunos; outras vezes, propondo atividades com a finalidade de observar, escutar e de compreender o que as crianças querem comunicar.
As observações do educador devem visar ao atendimento da criança e ao seu comprometimento com a formação do indivíduo, e não se resumir, simplesmente, a preenchimento de questionários e fichas avaliativas que tratam as crianças com uma homogeneidade que não existe, atendendo à avaliação seletiva.
O educador, para praticar uma avaliação comprometida com a formação da criança, necessita romper com os moldes da avaliação seletiva (com provas, fichas semestrais, em que assinala a nota do aluno ou conceito) e re-significar a maneira com a qual ele poderia propor uma avaliação que esteja comprometida com os princípios básicos para o desenvolvimento da criança. As fichas avaliativas não demonstram o momento que a criança está vivenciando, ao contrário, procuram rotular o trabalho pedagógico. A avaliação não é um momento retirado do processo, e, sim, o acompanhamento da criança através de atividades contextualizadas, reforçando o papel do educador investigativo, procurando refletir sobre o raciocínio da criança, propondo o comprometimento do planejamento escolar para a construção do próprio conhecimento.
Sendo assim, a avaliação sai do comportamentalismo dos conteúdos, criando aspecto de busca da qualidade e contextualização de cada atividade com a criança.
Para avaliar, é preciso entender a lógica da criança, como ela demonstra, a partir de exercícios e brincadeiras direcionadas. Mesmo por meio de exercícios e brincadeiras, não podemos rotular a criança, pois cada uma se encontra num ritmo diferente de desenvolvimento.
Além do comprometimento do educador deve-se ter um planejamento que procure atender no máximo à criança em seu aspecto sociocultural e no seu ambiente interativo, rico em materiais para exploração.
Para que a escola e o professor possam se propor a esta atividade, é necessária a contextualização do fazer, para que se proponha um trabalho qualitativo, deixando o assistencialismo da creche e Educação Infantil colocado em segundo plano.
Com base teórica prevista no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, “a avaliação, sobretudo nessa etapa destinada a auxiliar o processo de aprendizagem, fortalece a auto-estima da criança para que acompanhem suas conquistas, dificuldades e possibilidades ao longo do processo”.
A avaliação se dá de forma sistemática e contínua, aperfeiçoando a ação educativa, identificando pontos que necessitam de maior atenção na busca de reorientar a prática do educador, permitindo definir critérios para o planejamento, auxiliando o educador a refletir sobre as condições de aprendizagem oferecidas e ajustar sua prática às necessidades colocadas pelas crianças.
Para Hoffmann (1995), o acompanhamento do processo de construção do conhecimento se dá pela observação e reflexão permanentes sobre as manifestações das crianças. Deve ser essencialmente contrária a uma concepção de julgamento de resultados.
As crianças apresentam maneiras peculiares e diferenciadas de vivenciar as situações, de interagir com os objetos do mundo físico; o seu desenvolvimento acontece de forma acelerada. A cada minuto realizam novas conquistas, ultrapassando nossas expectativas e causando surpresas. Perceber a criança como o centro da ação avaliativa consiste em observá-la curiosamente e refletir sobre o significado de cada momento de convivência com ela. Pode-se correr o risco de estar interferindo em suas descobertas, respondendo antes dela perguntar ou fazendo pela criança o que ela poderia estar fazendo sozinha. Se o educador não perceber tais ações como avaliativas, estará obedecendo a uma prática equivocada de registros finais. Situar a ação avaliativa no cotidiano da Educação Infantil exige a consideração da criança como razão fundamental dessa prática, assim como exige tomar consciência de que toda e qualquer ação do educador tem por base uma intenção.
Para alcançar os objetivos deve-se avaliar os progressos dos alunos e, ao mesmo tempo, a eficácia de seus procedimentos, o que permite sempre que necessário uma correção de rumos ou atitudes. Essa atitude exige um processo de avaliação continuada, que se caracterizará com a observação permanente no trabalho diário junto ao aluno.
Fonte: http:// www.revistacriar.com.br/index.php?paga=13Acesso em: 12 jun.07.